O Poder do Amor
Annie Besant, a segunda presidente da Sociedade Teosófica internacional, era uma grande escritora e conferencista. Ela era uma pessoa muito dinâmica, com uma marcante presença pública, tendo inclusive trabalhado junto com Gandhi na campanha da libertação da Índia. Besant defendia causas que não eram muito populares, como o controle da natalidade, os direitos das operárias, os direitos dos intocáveis e outras causas sociais. Durante uma fase de sua vida ela sofreu uma perseguição implacável de um jornalista. Por alguma razão incompreensível, esse escritor realizou uma persistente campanha de difamação contra ela. Ele a criticava de forma virulenta em jornais e periódicos. Ela tentava rebater, tentava se defender, mas não conseguia.
Um dia Besant percebeu a inutilidade de tentar responder crítica com crítica, rancor com rancor. Quando percebeu o que estava acontecendo, pegou um retrato desse jornalista, colocou-o em sua mesa de cabeceira e todo dia, em sua meditação matinal, ela mirava o retrato e enviava pensamentos de paz ao jornalista. Em pouco tempo a agressividade do homem foi se dissipando e seu comportamento mudou completamente. Ele passou a admirá-la, tornando-se em seguida um amigo. A força do amor foi capaz de reverter completamente à atitude negativa.
Por meio da vigilância, da percepção correta da realidade, somos capazes de substituir o sentimento de ódio pelo sentimento de amor. O amor é muito mais forte que o ódio, que o egoísmo ou qualquer emoção negativa. Temos um poder fantástico, um poder divino, que é o poder de influenciar o mundo através da nossa mente. Temos a capacidade de exercer a função divina de criar e transformar o mundo. Existe uma imagem muito bonita de Nicholas Roerich, pintor russo que considero um dos maiores de todos os tempos. É um quadro de grande beleza que me impactou desde a primeira vez que o vi. Nele há um iogue sentando nas montanhas dos Himalaias, com neve em toda a sua volta. Mas onde ele está meditando existe uma árvore, um riozinho fluindo e uma vegetação de grande beleza. Esse quadro mostra que o iogue, o buscador da verdade, o ser espiritual, é capaz de transformar a realidade á sua volta. Isso é algo muito significativo. Podemos mudar o mundo em função do que sentimos e pensamos e da maneira como agimos. Quando percebemos que somos seres divinos, que temos um poder infinito, e passarmos a usar esse poder, somos capazes de movimentar montanhas. Que poder fantástico de transformação tiveram Buda, Krishina, Cristo e tantos outros instrutores da humanidade. Eles foram canais do divino. Conseguiram superar suas limitações, dominar seu egoísmo, a sua natureza inferior, e se abriram para a realidade superior, oferecendo-se como canais de regeneração da humanidade. Cristo falava “eu e o meu Pai somo um”, porque ele estava aberto para o Pai, que é a natureza divina que habita cada um de nós. Somos divinos por natureza e um dia chegaremos à estrutura de um Buda, de um Cristo. A semente da divindade já está presente no nosso interior. Apesar de sermos, divinos, vivemos envoltos nesse mundo de ilusão, esquecidos de nossa real natureza. Há um diamante no fundo do nosso ser, mas seu brilho está obscurecido. O brilho do diamante não consegue chegar à tona, não consegue chegar a nossa mente. Mas o diamante nunca deixa de ser diamante, mesmo quando está debaixo da terra. Se cavarmos e removermos tudo aquilo que está obscurecendo o seu brilho, sua luz se fará presente iluminando a nossa consciência, tornando a nossa vida mais clara, nítida e bela. Essa vida de sonhos que levamos é uma vida irreal, condicionada, sem criatividade; é uma vida que não conduz a auto-realização. Temos apenas que deixar que a beleza interior aflore, que a divindade interior se manifeste dentro de nós. E como é possível fazê-lo? Os grandes instrutores da humanidade nos ensinaram que a auto-realização é um processo de abertura. O divino já está no nosso interior, o diamante já está presente em nosso ser. A nossa natureza é uma natureza de felicidade. Por que não somos felizes? Porque não deixamos que essa luz chegue até nós?
Buda dizia de forma muito inspiradora que a vida espiritual é muito simples: é só se abrir para a luz. As pessoas vivem como se estivessem numa casa com as portas trancadas e janelas fechadas imersas nas trevas, com medo do mundo, encerradas em seu próprio universo, sem deixar qualquer frestinha de luz entrar. O medo de se abrir para o mundo é tanto que elas se trancam em si próprias. Elas criam uma casca em torno de si e se relacionam coma vida através dessa casca, dessa carapaça, impedindo o livre fluxo de energia entre elas e o universo. Buda dizia que basta abrir a porta e a janela que a luz entra. È muito simples mesmo. Estamos numa casa com tudo fechado, envoltos pela escuridão. Não é necessário descobrir nada sobrenatural, basta ter a coragem de se abrir. Quando no abrimos para a luz, ela chega até nós e ilumina nossa mente. Será que estamos preparados para recebê-la? Sem essa luz a vida fica obscura, sem beleza, sem brilho. Sem ela não conseguimos distinguir o falso do verdadeiro, vivemos na obscuridade. Essa luz divina chega até nós vida de dentro. É uma luz que esta sempre esperando que nós nos abramos para ela. Todos nós podemos ter acesso a essa luz interior, que é uma luz maravilhosa, que é a única fonte real de felicidade. Só depende de estarmos determinados a viver a vida divina aqui na Terra.
Eduardo Weaver é engenheiro, teósofo, conferencista e diretor-presidente da Editora Teosófica. Revista SOPHIA JUL/SET/2010